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Testi

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O Ka

O Ka


O Ka - Excerto do livro

1

— Bruxa! — Randy Osborne disse enquanto andava pela sala com um sorriso desprezível. — Você é definitivamente uma bruxa.

— Sua escolha de rótulos define sua ignorância — disse Chione, sem se intimidar com seu olhar. Bruxa era a terminologia de sua mãe. Ele sempre a escutava. Randy parecia incapaz de formar suas próprias opiniões. Se pressionado, ele sempre citava sua mãe.

— Exatamente! — Clifford Rawlings disse em seu apoio enquanto ele brandia o punho no ar.

Outros membros do grupo expressaram reações contraditórias, mas Chione Ini-Herit havia se tornado emocionalmente forte o suficiente para suportar as provocações cruéis de Randy. Logo depois que se conheceram, e ela aprendera a lidar com ele, decidira que qualquer coisa que Randy dissesse não prejudicaria seu equilíbrio. Sua atitude passiva, até agora, o havia mantido na linha.

Essa era a primeira vez que Chione tinha a chance de ver todos os membros da equipe arqueológica juntos em uma mesma sala. Eles eram mais velhos e, às vezes, um pouco intimidadores. Sua própria personalidade era quieta, meditativa; talvez um pouco passivo-agressiva, e às vezes ela ficava sobrecarregada com as personalidades altivas deles. No entanto, ter permissão para acompanhar esses profissionais ao seu local de escavação no Egito era a chance de uma vida. No momento, ela ficaria feliz em sentar e assistir os membros da equipe incitando uns aos outros. Informação vinha de todos os lados tão rapidamente que entorpecia seus sentidos. Com toda a equipe reunida, suas vozes assaltavam seus tímpanos, rodada após rodada de piadas e respostas que levariam os mais mansos a fugir. Conhecer essas pessoas não podia esperar até chegarem ao local da escavação, quando o trabalho continuaria a toda velocidade. A única maneira de conhecê-los como uma equipe era aqui. Agora.

Aaron Ashby parou atrás dela. — Você não sabe o significado de bruxa, Randy. — Chione sentiu a mão de Aaron tocar seu ombro, mas ele a removeu imediatamente, prestando atenção a suas maneiras. — O que lhe dá o direito de rotular alguém?

— Porque ela previu a nossa descoberta — disse Randy — e o perigo perto de algumas pequenas tumbas. O que ela disse, mesmo... que o cemitério é assombrado e que nossa descoberta pode mudar a história? Ha! — Ele balançou nos calcanhares. — Parece uma típica previsão de bruxa. — Ele olhou para ela novamente. — Até sua aparência egípcia me assusta. Por que você não corta esse seu cabelo preto na altura da orelha como os egípcios costumavam...?

— Se a aparência de Chione o assusta, Randy — Kendra Laker disse sucintamente — talvez você precise olhar melhor para sua própria aparência.

Chione ficou encabulada e se perguntou por que eles a estavam defendendo. Ela podia se defender perfeitamente bem de seu jeito silencioso. O grupo parecia muito disposto a atacar Randy. Durante as etapas de planejamento da expedição, a inveja entre alguns dos funcionários inferiores do Instituto de Arqueologia da Califórnia previu que a equipe não se manteria unida. Não seria por causa dos inícios diversos de cada um no campo da arqueologia, mas devido ao choque de personalidades e egos.

— Com licença, Sr. Osborne — disse Aaron. — Qualquer arqueólogo instruído sabe que no Egito esses pequenos túmulos são mastabas.

— E o que você classifica de maneira tão leiga como um cemitério — disse Clifford — é uma necropolis.

Uma expectativa nervosa, assim como irritação, pairava pesadamente sobre a pequena sala de conferências do hotel cinco estrelas Re-Harakhty, no Cairo. O cansaço da viagem havia atingido todos eles. Apesar do ar condicionado, a lotada sala de conferências estava abafada. O momento pelo qual todos haviam esperado estava sobre eles. O pequeno grupo de colegas aguardava impacientemente a chegada do Dr. Sterling Dr. Withers. Antes que a equipe seguisse para o sul, ao longo do Nilo, até o Vale das Rainhas, ele entregaria um relatório final sobre o projeto, a primeira grande chance do Instituto e que tinha a possibilidade de ser a descoberta de uma vida.

O arqueólogo Dr. Sterling Dr. Withers havia herdado uma fortuna em fazendas no vale central da Califórnia. No entanto, seu interesse nunca estivera no que crescia do solo, mas no que estava enterrado sob ele. Ele rapidamente arrendou a maior parte da terra para agricultores, mas manteve a parte residencial para concretizar seu sonho de infância de possuir um instituto arqueológico privado. O monstruoso edifício principal do Instituto, que vinha da era vitoriana, com suas estruturas secundárias, menores e renovadas, ficava fora da estrada principal. Situado em uma área verdejante, o conjunto de edifícios era coberto e protegido do calor e da poeira por árvores centenárias. Perfeitamente cronometrado, o Instituto abrira suas portas junto com o Novo Milênio. Lathrop, na Califórnia, tornava-se um ponto maior no mapa. Depois de vários anos na esperança de encontrar um novo local de escavação, a equipe de exploração do Instituto deparara-se auspiciosamente com uma tumba que permanecera fechada por tanto tempo que ninguém sabia estimar com certeza quanto até o momento.

Chione olhou pela janela da sala de conferências do último andar do hotel e para o terreno do resort, repleto de piscinas monstruosas e amenidades luxuosas. Embora ela detestasse o luxo desnecessário, apenas estar no Cairo, ou em qualquer lugar do Egito, fazia tudo parecer certo. Ainda assim, ela não podia se livrar do luxo rápido o suficiente. Algo havia se apossado dela. Ela ansiava por chegar ao local da escavação e descer por aquele buraco no chão.

Ao longe, nuvens de areia sopravam nas correntes de ar. Eles a lembravam de como o verão se arrastava no vale central da Califórnia. O começo do outono lá não era o verão suave com o qual ela estava acostumada. Não havia como escapar. Todo mundo sofria. Qualquer outro lugar do mundo teria oferecido um alívio contra o calor escaldante, mas viajar para o deserto egípcio não era exatamente o lugar onde alguém buscaria alívio do calor da Califórnia. Agora que eles finalmente haviam chegado ao Egito, precisar esperar para aprender detalhes de última hora do projeto alimentava a impaciência e fazia os ânimos se acenderem.

A risada de Randy trouxe seus pensamentos de volta para a sala.

Aaron suspirou. — Você não entende, não é mesmo, Randy?

— O que há para entender?

— É isso que faz Chione ser tão talentosa. Ela não tem esqueletos dançando no armário.

— Você quer dizer por que todo mundo conhece os segredos dela?

Chione sentiu uma pontada de raiva por ser insultada por Randy e por falarem sobre ela tão livremente. Ela não tinha ilusões sobre a condição de sua vida. Ela olhou para Kendra com um sorriso irônico. Eles estavam cientes do fato de que seus órgãos reprodutivos eram subdesenvolvidos, deixando-a incapaz de ter filhos. Ela não se importava que soubessem e por causa isso, em sua mente, ela se sentia livre. Um dia, Randy teria o que merecia. Por enquanto, ela pretendia deixar a cena se desenrolar, em parte para conhecer o time, e porque Randy podia muito bem se fazer de bobo sem qualquer ajuda dela. A inclusão de Randy no projeto impedira qualquer exaltação emocional que a equipe pudesse experimentar. A intolerância seria amenizada pelo trabalho.

Aaron, alto e musculoso, passou um lenço pela testa e depois por trás do pescoço, enquanto andava pelos fundos da sala. Por fim, ele assumiu uma cadeira no final da mesa de conferências. Chione sabia que Aaron tinha que se esforçar para morder a língua enquanto observava a mistura de sorrisos divertidos e carrancas de desaprovação trocados entre os outros. Ela observou Aaron descontar a raiva desenhando linhas em grade em um bloco de notas. Não era a primeira vez que Randy tentava destruir a reputação de outra pessoa para melhorar a sua. Ele estava tentando desacreditá-la para que perdesse seu lugar na equipe. Ela não tinha um doutorado como os outros, então Randy expressava constantemente sua descrença por ela ter sido escolhida para trabalhar na exploração arqueológica mais significativa da história recente.

— O fato de Chione ser tão aberta sobre sua vida privada — disse Bebe Hutton do outro lado da sala — não dá a ninguém permissão para zombar dela. — O hábito de Bebe era permanecer quieta e observar, dizendo apenas o suficiente para acabar com uma discussão ou incitar mais interesse quando necessário. Ela iria manter a compostura e observar a mudança dos acontecimentos.

— Você a menospreza, porque ela o supera em inteligência prática — disse Clifford Rawlings enquanto olhava para Randy com desgosto. Quando o egiptólogo experiente e erudito Dr. Rawlings falava, todos respeitavam e ouviam, apesar dos frequentes lapsos de zombaria. Olhar para o homem oferecia a visão de uma pessoa que se aproximava da velhice com uma postura imponente e cujas roupas estavam sempre na moda e novas. Ele tinha alguns cabelos cinzas nas têmporas e um comportamento esculpido pelo tempo. Exceto quando em um de seus humores cômicos frequentes. Quando isso acontecia, na melhor das hipóteses, era difícil levá-lo a sério. As pessoas diziam que ele entregara a administração de sua vinícola em Napa Valley a uma equipe administrativa, porque ele não precisava da bebida para melhorar seu humor. Na realidade, a vinícola era apenas um abrigo fiscal.

— Eu concordo — disse Kendra. Ela brincou, com o brilho natural de seus olhos verdes. — Chione tem um senso especial de intuição. — A energia pesada de Kendra ressoava em cada palavra, fazendo-a ser ouvida.

— Mas...

— Deixe para lá, Randy — disse Clifford.

Randy continuou de pé apoiado com a mão no encosto de uma cadeira, movendo uma perna para a frente e para trás como se sua cueca estivesse enfiada no lugar errado. Então, ele levantou a perna algumas vezes em um último esforço para acabar com seu desconforto. Seus hábitos pessoais eram motivo de umas boas risadinhas entre a equipe, que podia ridicularizar uns aos outros educadamente e depois rir. Às vezes, as críticas vindas de qualquer um deles pareciam ser apenas brincadeiras, a maneira como esse grupo de colegas sob grande pressão lidava com o estresse. Outras vezes, o comportamento de Randy era repulsivo. Ele parecia feliz em comer o tempo todo e, graças à mãe que fazia seu almoço, ele sempre tinha um amplo suprimento de comida por perto para mastigar. Seu ganho contínuo de peso e falta de higiene pessoal afastavam as pessoas. Ele sempre parecia suado e enrugado, com cabelos ensebados. Ninguém estava ansioso com a ideia de compartilhar uma barraca com ele no calor do deserto. Finalmente, ele alcançou atrás de si e deu um puxão na parte de trás da calça. Não era o tipo de postura profissional que se esperaria de um antropólogo físico que trabalhava com genética e bioquímica.

Chione desejou que Randy entendesse que suas provocações não podiam desacreditar suas realizações. Ela tentava ser rigorosa em tudo o que fazia e não tinha planos de mudar de atitude. Ele provavelmente achava isso intimidador.

Aaron olhou para ela e sorriu discretamente com os comentários lançados em seu nome. Chione sabia muito bem que Aaron ainda a amava, mas continha seus sentimentos, às vezes por trás da indiferença, o que ela percebia facilmente, porque sempre o entendera. Aaron também esperava que Randy não fosse incluído na expedição que se aproximava.

Kendra persistiu. Seu amor por ser o centro das atenções não lhe permitiria dar as costas a algo tão chamativo como uma previsão paranormal que se tornara realidade. — Os sonhos de Chione preveram que esse túmulo seria encontrado — disse ela — prevendo que um som triste levaria nossa equipe exploratória a ele.

— Semelhante aos Colossos Cantantes de Mêmnon em Tebas — disse Bebe, referindo-se às duas estátuas no norte que alguns pensavam ser a mãe de Amenhotep, Mutemuia, e a Rainha Tyi. Ela aprendera a recitar os nomes egípcios tão facilmente quanto falava inglês. — Pensava-se que era a estátua de Tyi que emitia o canto. Nosso túmulo foi descoberto por causa de ruídos semelhantes emitidos por ele. — Bebe era antiquada e cética em relação ao paranormal, mesmo enquanto falava sobre os recentes acontecimentos incontestáveis. Ela estava sempre ansiosa por colocar seu conhecimento da história egípcia em prática. Seu profissionalismo como historiadora era considerado iniguAllahvel. Ela fazia bem o tipo, séria e educada, mas com uma figura matronal. Seus cabelos castanhos apagariam anos de seu semblante se clareados e com um corte de cabelo diferente. No entanto, ela era o epítome da empresária de meia-idade estilizada profissionalmente dos dias de hoje.

— Viu? — Randy perguntou, aproveitando o momento e levantando a voz. — Somente uma bruxa poderia prever o encontro de uma tumba escondida.

— Ou alguém com um sexto sentido perfeitamente afinado com o que ela faz — disse Aaron, levantando-se novamente.

— Mas o bastante para fazer previsões? Me diga, por acaso ela previu essa tumba datada da 18ª dinastia antes que as primeiras relíquias fossem desenterradas?

— Isso realmente importa? — Clifford perguntou. — O fato é que Chione sonhou tudo, desde os sons tristes a alguém tropeçando em uma pedra e caindo em um buraco.

— Um buraco que levava à passagem de uma tumba — disse Aaron. Seu sorriso era presunçoso e mostrava que ele estava completamente satisfeito com as habilidades extra-sensoriais dela. Com Aaron parcialmente no comando, ele não deixaria a personalidade de Randy arruinar tudo toda vez que ele abrisse a boca.

Ela ficou contente por não ter contado a ninguém, exceto Aaron, que ela havia tido sintomas estranhos, parecidos com gripe, há alguns meses, quando começara a ter esses sonhos reveladores. Ela pensou que, talvez, os sonhos tivessem tido um efeito psicológico profundo em seu sistema nervoso e esperava que seus enjoos imprevisíveis e outros sintomas fossem passar eventualmente. Felizmente, Aaron era confiável e não havia contado a ninguém. Saber que alguém do grupo a compreendia e sabia como ela recebia suas informações extra-sensoriais também era útil. Sua náusea ocasional estava diminuindo gradualmente. Se Randy soubesse do persistente mal-estar, ele teria providenciado para que ela fosse impedida de acompanhar a equipe para qualquer lugar.

Chione olhou discretamente para Aaron e rapidamente desviou o olhar. Ela precisava esconder o fato de que ela permanecia bastante encantada com ele. O desejo por algum tipo de intimidade havia retornado recentemente. Sua promoção para se tornar o assistente do Dr. Withers e o segundo em comando significava que agora eles trabalhariam lado a lado. Isso era tudo o que ela podia permitir. De alguma forma, ela sabia que, enquanto trabalhavam juntos, ele tentaria recuperar o que eles haviam partilhado e tentaria convencê-la a dar-lhe outra chance. Ele era um cara decente; o único a compreender o que ela era. Não apenas isso, ela havia mostrado a ele que, com um pouco mais de estudo e autoconhecimento, ele poderia desenvolver suas próprias habilidades. As possibilidades o fascinavam.

Como uma criança adotada, ela possuía uma necessidade profunda de saber quem ela era e se apegara ferrenhamente a sua mãe e pai adotivos. O divórcio deles a deixara arrasada. Então veio seu segundo pai adotivo, um egípcio, a quem ela adorava e cujo nome ela adotara. No entanto, seu carinho só a fez mais dependente.

Logo depois que ela e Aaron se conheceram, chegaram as notícias mais desesperadoras de todas. Quão devastada ela se sentira depois de saber que nunca poderia ter filhos. Ela interpretara isso como um presságio para não compartilhar sua vida com ninguém e encontrar forças em ficar sozinha. Quando ela e Aaron se separaram, ela deixara claro que não podia mais se apegar a ninguém. Talvez seu consolo tenha realmente vindo com a solidão. Afinal, o isolamento auto-imposto aperfeiçoara seus dons mentais especiais. Ninguém realmente entendia aquelas qualidades peculiares e isso reforçava o conceito de separatismo em sua mente.

O fato de Aaron ter uma mente aberta e ter feito um esforço gigantesco para ampliar sua compreensão de realidades alternativas oferecia uma esperança, principalmente porque sua própria consciência se expandira com as experiências. Ela acreditava ser sábio que as vidas deles permanecessem separadas. Ele poderia se apaixonar por outra pessoa e ter a família que desejava. No entanto, a ideia de ele amar outra pessoa que não ela criava um sentimento confuso na boca do seu estômago. Recentemente, ela começara a ansiar novamente por ele e isso a estava forçando a confrontar seus sentimentos. Claramente, Aaron parecia não querer desistir dela, ou do desenvolvimento de suas próprias habilidades extra-sensoriais. Ela se sentia pressionada para resolver as coisas.

— Toda essa coisa paranormal me confunde — disse Bebe. — Podemos recapitular novamente para me ajudar a entender?

Kendra aproveitou o momento com vontade e descreveu como Chione havia tido um sonho sobre sons tristes ligados a uma tumba no Egito. Chione não havia contado ao Dr. Withers, mas contara a sua esposa, Marlowe, que mais tarde contara a ele. O Dr. Withers não achou que fosse nada demais. Na mesma época, Clifford ouviu um amigo do Museu Madu, no Cairo, relatando que um ladrão de sepulturas que procurava túmulos para saquear ouvira um som como um choramingo perto de algumas mastabas.

— Coincidência — disse Randy, tamborilando os dedos contra o encosto de uma cadeira.

— Sorte nossa — disse Clifford. — O ladrão de túmulos que clamava que a necrópole estava assombrada assustou as pessoas para longe da área.

— Dá um tempo — disse Randy.

Clifford continuou, dizendo que as pessoas da Sociedade de Antiguidades do Egito pensavam que algo havia se mexido ou sido desenterrado, o que fez com que os sons fossem emitidos pelo vento. Seu amigo da Sociedade sabia que ele estava tentando organizar um trabalho no Egito e sugeriu que o Instituto enviasse uma equipe exploratória. — E foi o que fizemos — disse Clifford. — Mas eu mesmo não tinha ouvido falar do sonho de Chione. E não contei ao nosso ilustre líder sobre os sons tristes, apenas sobre a possibilidade de um novo local de escavação.

Clifford serviu-se de um copo e uma garrafa de água mantidos frescos em uma pequena geladeira contra a parede. Ele se serviu de uma bebida, mas passou a água para Bebe que estendia a mão. Chione pegou o cantil do bolso e se serviu de um pouco de Karkade egípcio, um chá escarlate feito da flor de hibisco, que podia ser bebido quente ou frio.

Aaron explicou que, depois que o Dr. Withers enviara a equipe de exploração, Chione contou a Marlowe seu segundo sonho sobre um homem tropeçando em uma pedra e caindo em um buraco que levava à descoberta de uma tumba. Alguns dias depois, Clifford soube que um dos homens da equipe exploratória tropeçara em um bloco e caíra em um buraco. — Quando o Dr. Withers foi informado — confirmando o sonho de Chione que nenhum de nós tinha ouvido — disse Aaron — o Dr. Withers e Ginny correram para o Egito para fazer parte da equipe exploratória.

— A Ginny McLain pôde ver a tumba antes de qualquer um de nós? — Randy perguntou.

— Ela é nossa fotógrafa — disse Clifford, dando seu sorriso mais ridículo, como se estivesse colocando um alfinete no ego inflado de Randy.

— Estou feliz que o Dr. Withers estava presente quando descobriram a entrada — disse Kendra. — Ele próprio estava ajoelhado naquele buraco raspando os escombros com as próprias mãos.

Bebe ouviu atentamente. — Pelo que eu entendi — disse ela — Chione não sabia de nenhum dos detalhes do que estava acontecendo no local, ou mesmo sobre o envio de uma equipe exploratória.

Randy suspirou pateticamente e olhou pela janela. — Teríamos encontrado a tumba sem os sonhos de Chione. Se ela é mesmo uma vidente tão boa, por que ela precisa de algum de nós?

Mais uma vez, Chione apenas revirou os olhos para os outros e teve um vislumbre de Aaron sofrendo por ela. Alguém certamente comentaria, então ela decidiu ficar quieta e simplesmente assistir aos fogos de artifício.

— Se os sentidos de Chione são tão aguçados que ela sonha com o que estamos falando — disse Kendra, em sua maneira que não aceitava discussão — então somos nós que precisamos dela.

— Ela é obcecada por coisas egípcias — disse Randy, movendo a mão como se ele não ligasse. — Ela deixava o almoço embaixo daquela pirâmide brilhante de diorito preto no aparador da sua sala, em vez de na geladeira como todos nós.

— Se bem me lembro — disse Clifford — você costumava guardar seu almoço com o dela quando ela estagiou com você.

Randy sorriu timidamente. — Era uma novidade.

— Claro que sim — disse Kendra. — Mas você dizia que a maionese em seu sanduíche nunca derretia e que sua salada ficava crocante.

— A salada não estava fria, no entanto.

— Eu não tomaria o poder da pirâmide de forma leviana — disse Bebe, surpreendendo a todos. — Vamos falar a verdade: todas as nossas facas não foram afiadas quando Chione trouxe sua pirâmide de vidro e demonstrou seu efeito?

— Isso me convenceu — disse Clifford. Clifford tinha um coração tão bom que daria a qualquer um o benefício da dúvida.

— Aaron mudou quando ele conheceu você — disse Randy, virando-se e finalmente se dirigindo diretamente a ela. — E teve a festa de aniversário da Rita. Você estava tentando lançar feitiços com aquela festa que deu para a esposa de Clifford? Até o seu apartamento minúsculo é lotado de coisas egípcias.

— Eu sou egípcia — disse Chione, embora não tivesse nascido egípcia.

— O Egito é importante para ela, Randy — disse Kendra rapidamente — ela cresceu com a história e a cultura egípcias.

— Porque sua mãe amava o Egito e lhe deu um nome egípcio que significa Filha do Nilo — disse Randy. — Como é que uma mulher americana adota uma criança americana que cresce parecendo a irmã de Nefertiti? Chione até usa o nome do padrasto.

— Chione Grant Ini-Herit — disse Bebe, enunciando. — Ela nunca abandonou o nome de seu primeiro pai.

A essa altura, Kendra e Bebe haviam se movido para ficar ao lado dela, em frente a Randy do outro lado da mesa de conferências. Ela estava começando a se sentir claustrofóbica. Ela não precisava que ninguém a defendesse e teria que fazer algo sobre Randy, e logo. Ele estava ficando fora de controle.

— Pelo menos ela abraça suas raízes — disse Kendra, lembrando a Randy como ele culpava abertamente suas deficiências em sua mãe dominadora.

— Chione queria que ela fosse egípcia — disse Randy. — Os céus sabem que se ela pudesse ter um bebê, provavelmente iria parecer o herege Akhenaton.

Aaron bateu um bloco de notas na mesa. — Errado de novo, Randolph. Chione é muito bonita. A criança provavelmente se pareceria mais com Nefertiti ou até com o Rei Tut. Certamente não com seu mentor.

— É verdade — disse Randy. — Já foi dito que você se parece com o Rei Menino.

Aaron pulou, agarrou a frente da camisa de Randy e puxou o punho para trás.

Clifford agarrou o pulso de Aaron. — Já chega! — ele disse, enquanto se punha entre eles. — Aí vem o Sterling.

A Fonte

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Calor Polar

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