A Agência de Detetives Mortais (Os Mistérios de Abigail Summers Livro 1)
Traduzido por Juliana Chiavagatti Grade
Resumo do livro
Na pacata Becklesfield, Abigail Summers enfrenta um desafio singular: resolver seu próprio assassinato. Guiada por espíritos locais, uma médium psíquica e seu marido policial, Abigail desenterra segredos obscuros enquanto investiga desaparecimentos e mistérios inesperados. Este suspense paranormal combina humor e intriga em uma trama envolvente e cheia de reviravoltas.
Trecho de A Agência de Detetives Mortais (Os Mistérios de Abigail Summers Livro 1)
Capítulo 1
Abigail Summers se sentiu estranhamente revigorada quando acordou. Ela sentia como se estivesse dormindo há dias, mas ainda disse a si mesma: “mais dois minutos” e se aconchegou novamente. Ah, não havia nada como ficar deitada ou ter um dia de descanso no... Domingo? Segunda-feira? Ela não tinha certeza, e que horas eram? Abigail olhou para o relógio – pouco antes das oito. Mas era de manhã ou de noite? Manhã com certeza. Ela exagerou no vinho branco de novo ontem à noite? Ela se lembrava de uma dor de cabeça ao pensar nisso. Ela disparou para fora da cama quando alguém abriu lentamente a porta. Ela estava prestes a pegar a luminária para atingi-lo na cabeça quando reconheceu a pessoa.
— Monica? O que está fazendo aqui?
¬— Olhe a bagunça que está aqui. Eu digo para jogarmos tudo fora. Especialmente toda a roupa de cama.
— E a cama. Eu não conseguiria dormir assim agora, — disse uma voz que ela conhecia bem.
O coração de Abigail quase parou, e ela começou a se perguntar se teria parado. Ela sempre se orgulhou de seus poderes de percepção, mas, em sua defesa, ela não tinha estado doente e nem mesmo tinha consultado um médico nos últimos doze anos. Talvez ela devesse, pensando nisso.
O sobrinho dela, Aaron, e sua esposa horrível, Monica, estavam remexendo nas coisas dela, com toda a cara de pau.
— Lixo. Lixo. Caridade. Não, lixo. Lixo.
— Mas que merda você está fazendo? — gritou Abigail. — Monica, estou falando sério, se você não parar... — Mas Monica não parou. Monica, ela percebeu, não podia vê-la. Abigail foi até o espelho, mas também não conseguia se ver claramente, até que uma névoa se dissipou.
Estou sonhando, totalmente louca ou morta. Ela se sentou na cama para pensar em qual deles. Certamente, se ela tivesse morrido, seu corpo estaria lá, como o fantasma no filme. De qualquer forma, ela não pode estar morta. Ela tinha apenas trinta e poucos anos e tinha muito o que fazer no trabalho, e ainda não havia se casado, nem mesmo ficado noiva. Aaron, que embora fosse o único beneficiário em seu testamento, não mantinha contato há mais de um ano. Agora, aqui estava sua esposa gananciosa vasculhando as coisas dela. Então, ela pensou que não estava sonhando ou delirando. Mas talvez morta. Ela não estava doente, estava? Não, ela nunca ficou doente. Embora ela tenha se lembrado de uma dor de cabeça e tontura em algum momento. Ela descobriria o que havia acontecido nem que fosse a última coisa que fizesse. Meu Deus, qual foi a última coisa que ela fez?
Aaron deu uma olhada na penteadeira.
— Alguma joia que valha alguma coisa?
— Não, não muito. A maior parte é de acessórios baratos, apenas bijuterias. Sem anel de noivado, é claro, — disse ela e riu.
— Se você se importa, esse é o meu acessório barato. — Abigail se lançou em direção a ela, mas sua mão a atravessou. — Ou você está morta ou eu. — Quando fez o mesmo com sua caixa de lembranças quando foi arrancá-la de Aaron, ela começou a pensar que devia ser ela. Ah, que pena, pensou ela. — Sou muito nova. E quanto a todos os meus programas de TV que já estão na metade? Não acredito que isso esteja acontecendo. Será que foi a pizza que esquentei? Ela já estava por aí há alguns dias. Então, o que alguém realmente faz quando está morto? — Ela se olhou de novo no espelho. Ela parecia bem, um pouco corada. Não foi esfaqueada nem nada de terrível como isso. Ah, e seu cabelo parecia bem. Ela se virou para o lado. Um pouco de cabelo bagunçado na parte de trás, mas nada muito ruim, e o fato de seu cabelo loiro na altura dos ombros ser cacheado escondia isso muito bem. — Pelo menos eu o pintei na semana passada. Droga, eu tinha aquele pijama de seda creme novinho em folha que estava guardando para a melhor ocasião. Por que eu não poderia estar usando-o? Meu Deus, cala a boca, Abigail. Sou tão vaidosa, mesmo quando estou morta!
Ela não estava assustada, arrependida ou com medo. Um pouco animada, tranquila e com uma espécie de entusiasmo. Primeiro, ela tentou atravessar uma parede – conseguiu sem problemas. Ela conseguiu subir as escadas sem incidentes. Até aí tudo bem. O que eles fizeram com a cozinha? Uma grande pilha de comida estava na mesa e um pouco na lixeira. Ela só tinha comprado aquele bolo de cenoura na semana passada. A sala de estar também estava revirada. Não diga que ela ficaria presa aqui por uma eternidade com esses dois. Ela aceitaria o Inferno. Mas ela poderia sair de casa? Abigail fechou os olhos e passou pela porta da frente. Ela se sentiu triste e feliz ao mesmo tempo.
Ela parou e olhou para sua casa de infância. Era uma construção antiga tombada que agora estava pintada de branco, mas as janelas de treliça nas molduras de madeira originais permaneciam como eram há mais de cem anos. Ela só esperava que Aaron não tivesse planos de arrancá-las e colocar outras de plástico. Até mesmo a porta da frente era a mesma de quando foi construída, embora o enorme buraco da fechadura fosse agora redundante em favor de uma fechadura Yale. Ela se lembrou do dia em que tinha cerca de seis anos, que seu pai havia pregado uma ferradura no topo dela. “Tem que apontar para cima, Abi, então a sorte permanece.” Até hoje, ela sempre achou que tinha. Com um grande suspiro, ela se afastou.
Abigail de repente se lembrou de que estava de pijama vermelho. Mas depois que um carrinho de bebê foi empurrado por ela e um carro passou, ela percebeu que era de fato um fantasma do tipo bem morto e que ninguém mais podia vê-la. Ela era a única? O que ela deveria fazer agora? Abigail havia morado em Becklesfield durante toda a sua vida e achava que deveria ter viajado mais quando teve a chance. A ideia daqueles dois estarem lá era demais para suportar. Ela estaria se revirando no túmulo – se tivesse um. Ah, talvez ela tivesse um. Talvez seja o primeiro lugar que ela deveria ir.
Ela caminhou até a antiga igreja em que havia sido batizada e onde sua família estava enterrada. Ficava ao lado da praça do vilarejo, que estava cheia de pais levando seus filhos para a pequena escola primária que ela havia frequentado. Ninguém parecia vê-la, embora ela pudesse jurar que algumas das crianças menores olharam para ela e sorriram. Ela caminhou ao redor do lago até a parede de pedra que cercava a igreja. Era muito cedo para o reverendo Stevens estar lá, mas havia um homem de meia-idade olhando para uma das sepulturas. Abigail foi até onde sua mãe, pai e irmão haviam sido enterrados. Nenhuma sepultura aberta ou sinal dela. Ao menos isso era um alívio. Talvez ela estivesse sonhando ou tendo uma experiência fora do corpo, ou melhor, fora de casa. Ela deveria estar procurando uma luz ou um túnel? Ou talvez a mãe e o pai dela? Primeiro ela entraria na igreja antes de realmente entrar em pânico. O relógio da igreja soou nove horas enquanto ela seguia o caminho para a porta de madeira em arco e ficava na varanda.
— Ainda bem que não dormi nua, — disse Abigail em voz alta.
— Você não seria a primeira, — disse o homem que estivera no cemitério, e curiosamente, também vestindo pijamas listrados. O cavalheiro bonito e rude notou a mulher bastante atraente vagando para cima e para baixo do lado de fora da igreja e sentiu que tinha que ajudá-la.
— Você pode me ver? — perguntou uma Abigail muito aliviada. — Nossa, eu também posso te ver. Você também é um fantasma, ou nós dois estamos loucos?
— Bem, eu posso ser um pouco dos dois, — ele riu. — Meu nome é Terry. Você é uma recém-falecida? Ou devo dizer uma recém-chegada?
— Não tenho certeza. A primeira coisa que eu sabia sobre isso, foi a esposa do meu sobrinho limpando minhas coisas. E ser muito rude com minhas coisas. Sou Abigail Summers.
— Pode demorar um pouco para o espírito deixar o corpo. E não se preocupe se não se lembrar de como morreu. Isso é perfeitamente normal. É um pouco como um ferimento na cabeça quando os pacientes nunca conseguem se lembrar do que aconteceu quando acordam. Por algum tempo, pelo menos.
— Eu estava esperando ir para o Céu, para ser honesta.
— Na minha experiência, nos últimos cinquenta anos estranhos de estar morto, é que a morte súbita por uma doença ou acidente é a segunda maior causa de estar preso aqui.
— Qual é a primeira?
— Assassinato, — disse ele.
— Gosto tanto de uma história de mistério quanto qualquer outra pessoa, mas realmente não acho que fui assassinada. Lamento dizer que não sou tão importante. Embora meu sobrinho, Aaron, pareça ter herdado minha casa rapidamente!
Terry suspirou:
— Eu vi pessoas vagando por essas ruas por uma nota de dez libras, então eu manteria a mente aberta se fosse você.
— Eu vou, com certeza. Não quero que ele se safe de assassinato. Era a casa da minha família. Tenho todas as minhas memórias dentro daquelas paredes e naquele jardim. Vai partir meu coração e dos meus pais se ele se mudar para lá. Mas ele é a única família que tenho agora. O pai dele, meu irmão, morreu há alguns anos. Além da roupa de dormir, como você sabia que eu estava morta? — perguntou Abigail.
— Olhe para mim. Consegue ver uma ligeira aura ao meu redor?
— Sim, eu posso. Eu já tinha notado isso. Há muitos de nós por perto?
— Não tantos quanto você imagina. A maioria das pessoas vai direto para onde deveria estar. Ou algumas pessoas como eu têm a chance de sair e não aproveitam. Se quiser, posso apresentá-la aos meus amigos. Vou te mostrar onde todos nós ficamos. Pode surpreender você.
Eles passaram pela loja da aldeia e entraram na rua principal. A vida tinha continuado sem ela, Abigail pensou tristemente. Era assim que seria de agora em diante; ela era simplesmente uma espectadora? Observar o mundo, mas não poder fazer parte dele. A Sra. Merry estava colocando suas flores do lado de fora da loja, enquanto os Correios abriam a porta e o Sr. Banning, da loja de antiguidades, conversava e ria com Cassie Briggs. Certamente Cassie deveria estar de luto – obviamente não. Terry gesticulou para que ela entrasse em um prédio em que Abigail não entrava há anos. — A Biblioteca Pública de Becklesfield? Isso dificilmente é gótico ou fantasmagórico, — disse ela.
— Onde mais há jornais, computadores, uma televisão para olhar e um grupo de visitantes em constante mudança? Podemos acompanhar todos os eventos atuais. Não esquecendo que temos o lugar só para nós depois do expediente. Todos os meus amigos vêm aqui. Vamos, vou te apresentar, — disse Terry.
O prédio era um dos mais antigos da aldeia e estava espalhado por dois andares. A biblioteca em si era de plano aberto e a referência e as salas de armazenamento ficavam no andar de cima. Ainda não havia aberto suas portas ao público, mas na parte de trás da grande sala, um grupo de pessoas estava sentado em algumas cadeiras confortáveis.
— Pessoal, esta é a nossa última chegada, Abigail.
Ela conheceu Betty, que era uma senhora alegre de oitenta e dois anos, vestida com calças bege e um suéter listrado.
— Bem-vinda, minha querida. Imagino que você esteja um pouco confusa, mas está entre amigos. Venha e sente-se ao meu lado.
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