Crise de Identidade (Mistérios do Campus Braxton Livro 4)
Traduzido por Heloisa Miranda Silva
Resumo do livro
Em Crise de Identidade, um ladrão astuto invade o campus de Braxton, enquanto uma série de roubos de joias ecoa um caso antigo não resolvido. Quando um corpo é encontrado, Kellan precisa desvendar segredos sombrios e colaborar com April para encerrar uma guerra entre famílias mafiosas, enfrentando perigos em meio ao calor sufocante do verão.
Trecho de Crise de Identidade (Mistérios do Campus Braxton Livro 4)
Capítulo 1
– No primeiro dia em que nós nos conhecemos, eu já sabia que você faria o meu cabelo ficar branco prematuramente – resmungou April, enquanto agarrava mechas de seu cabelo loiro acinzentado e apertava o seu distintivo dourado até que uma marca em forma de estrela surgisse em sua palma esquerda. – Mas, honestamente, pensei que eu teria mais chances de acertar a previsão dos números da loteria do estado da Pensilvânia, antes de pensar que você pintaria um alvo na sua testa por causa da Família Castigliano. Sério, Kellan, você fez uma confusão e tanto com essa situação. Será que eles vão querer atirar em mim depois disso?
Nós conversávamos sem parar no escritório dela no centro da cidade no prédio administrativo do Condado de Wharton, com a porta completamente fechada. Poucas pessoas sabiam o que havia acontecido com a minha esposa supostamente morta, Francesca. Eu dei de ombros e ofereci a minha melhor expressão de desculpas, o que, não intencionalmente, se parecia com um filhote de cachorro procurando um lugar quente para dormir, ao invés de um homem verdadeiramente arrependido que nunca pretendeu causar tanto caos.
– Nós já falamos sobre isso várias vezes nas últimas semanas. Eu deveria ter informado imediatamente que a família da Francesca tinha forjado a morte dela. Eu não sabia o que fazer até que aquele último bilhete do Cristiano Vargas confirmou que eles tinham sequestrado ela como uma tática de vingança para punir os Castiglianos.
Eu descansei ambas as mãos e o meu queixo na mesa cheia de papeis, dei um grande sorriso como se o meu queixo estivesse prestes a se deslocar, e pisquei duas vezes por detrás dos meus óculos estilosos para ganhar a simpatia da xerife.
Pelo menos ela havia parado de me chamar de Pequeno Ayrwick. De todos os apelidos que eu já havia escutado durante os meus trinta e dois anos, esse era o que mais me insultava. Não havia nada mais de pequeno sobre mim. Depois de me graduar em Braxton uma década atrás, eu havia me transformado de um filho do meio esquisito, vindo de uma família complexa e muito bem-sucedida, para o que muitas mulheres consideravam como um homem extremamente bonito e com um bom físico, abençoado com uma inteligência sagaz e uma personalidade encantadora. Não me entenda mal, eu não sou egocêntrico. Eu apenas me resolvi comigo mesmo e aceitei o positivo e o negativo. Ultimamente, havia muito mais negatividade do que eu gostaria de tolerar. Pelo menos a Nana D ainda me chamava de neto brilhante, o que sempre fazia o meu coração se derreter.
– Essa é a sua desculpa? – April sacudiu vigorosamente a cabeça e bateu com uma caneca de café da Tweety Bird na superfície de metal da mesa. Pingos de um líquido grosso e frio se espalharam sobre a mesa e no meu lábio superior. – Desculpe, eu não pretendia fazer isso – choramingou ela enquanto me entregava um lenço que estava em uma gaveta emperrada. – Ah, caso você tenha se esquecido, é assim que você pede perdão.
Se não fosse pela pequena curva no canto da sua boca sarcástica, eu não saberia que April estava me provocando. Nós havíamos passado uma quantidade enorme de tempo juntos e organizando tudo o que havia acontecido nos últimos dois anos e meio desde o acidente. Certo, é hora de uma recapitulação – Francesca e eu havíamos chegado separadamente à festa de Ação de Graças, porque eu estava trabalhando fora da cidade naquela semana. Nossa filha, Emma, implorou para voltar para casa comigo – o que foi uma benção monumental disfarçada – ao invés de ir com a sua mãe. O que eu não sabia naquela época era que os pais de Francesca, Vincenzo e Cecilia Castigliano, haviam orquestrado toda aquela fachada. Quando eu recebi a ligação de que o carro da minha mulher havia batido e que ela havia sido morta por um motorista bêbado, eu fiz o meu melhor para seguir em frente com a ajuda da Nana D, a minha avó de um metro e meio de altura e de cabeça quente. Enquanto isso, Francesca viveu escondida na mansão Castigliano até que os pais dela pudessem encontrar uma maneira de apaziguar a guerra de gangues com os Los Vargas, a família mafiosa rival que controlava a maior parte da Costa Oeste. Dois anos haviam se passado sem uma solução viável ou sem que alguém descobrisse o segredo.
Alguns meses atrás, Emma e eu nos mudamos de volta para Braxton, uma pequena cidade no centro-norte da Pensilvânia onde eu havia crescido, e agora eu trabalho como professor assistente especializado em Comunicações e em Estudos Cinematográficos. Francesca escolheu esse momento para se materializar do seu esconderijo, ciumenta e com raiva devido à súbita impossibilidade de ver a sua filha crescer em Los Angeles. Depois que eu me recusei a hibernar no cativeiro, ela foi embora, fazendo com que eu e os seus pais pensássemos que ela estava visitando todos os lugares onde nós tínhamos passado férias — uma viagem abençoada pela estrada da memória. Em um determinado momento, Cristiano Vargas descobriu que Francesca estava viva, sequestrou a minha esposa não morta, e a forçou a enviar cartões-postais de cada lugar, com o objetivo de nos deixar em um estado de confusão. Agora, nós tentávamos imaginar qual seria o próximo movimento deles.
– Desculpe, April. Eu sei que você pretendia abandonar esse espetáculo intenso de drama quando se mudou de Búfalo, mas eu estou confiante de que vamos encontrar uma solução.
Eu limpei o café do meu lábio e sorri internamente diante dos comentários detalhistas dela. – Eu devia te ensinar a como passar um café mais saboroso. Eu acho que é verdade o que dizem sobre os policiais tomarem qualquer coisa que alguém…
– Não continue com esse insulto estereotipado e infamatório, a não ser que você queira que eu te algeme à mesa e saia para trabalhar! – April deu um longo suspiro e folheou pelos papeis manchados dentro de uma pasta desgastada. – Vamos focar nos nossos próximos passos. Os Castiglianos vão chegar logo em Braxton, e é melhor eles terem respostas. Eu concordei em não incluir formalmente o FBI até que recebamos um pedido oficial de resgate. Nós também precisamos provar que a Francesca está viva antes que eles se envolvam mais.
Anteriormente, April e eu não éramos amigos, especialmente porque eu havia solucionado quatro casos de assassinato antes dela – isso não ajudou a quebrar o gelo na nossa relação. Ela me via como um espinho que irritava cada nervo do seu corpo. Nós havíamos combinado uma frágil aliança nas últimas três semanas, e eu havia me convencido de que a demonstração intensa de fogos de artifício no escritório dela, quando os nossos dedos haviam se tocado acidentalmente, era apenas um sinal bizarro no radar. Então, um clarão de luz visceral surgiu dentro do meu corpo e um sonho sensual e acalorado me deixou vermelho e atordoado. Eu ainda era tecnicamente casado e não deveria dar boas-vindas a esses tipos de pensamentos sobre outras mulheres, não é mesmo?
Assim que a guerra acabasse entre as duas famílias, Francesca poderia se revelar para o resto do mundo, e nós teríamos que lidar com as repercussões. Eu só me importava com o impacto sobre a nossa filha de sete anos. Emma não merecia toda essa dor e confusão. E nem eu, mas nos poucos encontros que eu havia tido com Francesca depois da sua ressureição triunfante, havia ficado claro que nós éramos duas pessoas diferentes. Como um bom Católico — a minha família frequentava a igreja aos domingos — o divórcio era uma solução complicada. Eu sabia que amava a Francesca, mas não estava mais apaixonado por ela. Depois de todas as mentiras e enganações, como eu poderia perdoá-la? Sim, a vida dela havia estado em perigo por causa dos Los Vargas, mas ela poderia ter me contado a verdade anos atrás. Eu só havia descoberto a verdade sobre os negócios obscuros da família dela por acidente, depois que ela “morreu”.
– Na última atualização do Cristiano ele me disse que iria entrar em contato em breve com os próximos passos. Talvez ele ofereça termos de resgate razoáveis para os Castiglianos. Então toda essa bagunça vai acabar – Toda a confiança restante foi drenada do meu corpo com cada palavra reticente. – Urgh! Por que eu estou no meio desse dilema? Os Los Vargas deveriam conversar diretamente com os pais da Francesca para que ela fosse liberada em segurança.
– Excelente ponto. Talvez seja o seu charme único e inato que fica implorando por atenção? Independente disso, eu estou coletando evidências suficientes sobre o envolvimento dos Castiglianos no tráfico de drogas para colocá-los atrás das grades para sempre. Alguém tem que ir para a prisão por causa dessa confusão toda. Eu não vou ser capaz de protegê-la, você sabe disso – disse April com um olhar firmemente direcionado. – Eu entendo que ela é a sua esposa, mas a princesa da máfia cometeu vários crimes. Eu fico feliz que você não tenha pegado nenhum cheque do seguro de vida depois da morte dela.
– Eu fui um idiota por não ter feito mais perguntas sobre a vida dela quando nos conhecemos.
Apesar dos membros da minha família mais próxima formarem uma equipe fantástica, os Ayrwicks também gostavam de se meter nos negócios uns dos outros com muita frequência. Quando eu me mudei para Los Angeles para escapar das garras deles, um primeiro amor poderoso e abrangente tinha me deixado cego diante da verdade. Francesca e eu nos casamos rápido demais, e pouco tempo depois, eu consegui o meu PhD, consegui um emprego como diretor assistente em um programa de televisão em Hollywood, e me tornei pai com a chegada da Emma a esse mundo. Nós tínhamos uma vida boa, mas eu sempre soube que havia algo importante faltando entre mim e a Francesca.
– Nós vamos dar um jeito nisso, Kellan. Você está passando por muita coisa, mas não pode contar a mais ninguém até que possamos desmantelar os Los Vargas. De qualquer forma, eu tenho que investigar outro roubo de joias que aconteceu na semana passada.
– Eu estava querendo perguntar à Nana D sobre esses roubos irritantes. Tem alguma coisa que você possa me contar?
April engoliu em seco.
– Joias foram roubadas. As vítimas estão tristes. É isso que você precisa saber, ó santo intrometido? Nem pense em se meter novamente em uma das minhas…
– Blá, blá, blá. Eu li os jornais e sei algumas coisas, April. Vou perguntar à Nana D. Ela tende a saber dos últimos fatos. Eu me lembro vagamente de algo sobre um cartão de visitas incomum deixado para trás, certo?
– Eu prefiro não discutir isso. A inépcia do antigo xerife ainda me deixa com raiva. O meu predecessor tinha uma inclinação a esconder os fatos dos moradores da cidade – grunhiu April, e sacudiu a cabeça.
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