Bola Curva (Mistérios do Campus Braxton Livro 1)
Traduzido por Heloisa Miranda Silva
Resumo do livro
Quando Kellan Ayrwick retorna para casa para a aposentadoria de seu pai, ele encontra o corpo de uma professora nas escadarias do campus. Com segredos familiares, doações suspeitas e um blog difamatório emergindo, Kellan se envolve em um perigoso mistério acadêmico. Com a ajuda de sua avó excêntrica, ele tenta desvendar o assassinato antes que seja tarde demais.
Trecho de Bola Curva (Mistérios do Campus Braxton Livro 1)
Capítulo 1
Eu nunca me senti confortável voando. Minha natureza desconfiada supunha que a mágica que mantinha os aviões suspensos no ar iria deixar de existir de acordo com o desejo de um mestre. Ouvir o zumbido do propulsor a jato mudando de velocidade – ou experienciar os misteriosos bolsões de ar te sacudindo de um lado pro outro – equivalia à morte iminente em uma geringonça de alumínio destinada a problemas. Eu passei o voo todo com minha mandíbula travada, as mãos apertando os apoios de braços, e os olhos grudados no assento em frente a mim, esperando impacientemente que o guardião da cripta não reivindicasse outra vítima. Apesar de meu estranho talento com qualquer coisa mecânica e de Nana D sempre dizer que eu era brilhante, eu era completamente cético desse tipo de transporte. Meus instintos diziam que eu estaria mais seguro despencando sobre as Cataratas do Niágara sem roupas e dentro de um barril.
Depois de aterrissar no Aeroporto Internacional de Bufalo, Niagara nessa triste tarde de fevereiro, eu aluguei um Jeep para cruzar outros noventa quilômetros ao sul em direção ao interior da Pensilvânia. Vários centímetros de uma neve densamente compactada e gelo encardido cobriam a única rodovia que dava acesso à reclusa cidade da minha infância. Braxton, um dos quatro charmosos vilarejos completamente cercados pelas Montanhas Wharton e pela Floresta Nacional Saddlebrooke, era quase impenetrável por forças externas.
Enquanto eu trocava de pista para evitar uma parte escorregadia, o número de minha irmã iluminou a tela do meu celular. Eu pausei o Maroon 5 na minha playlist do Spotfy, aceitei a ligação e reclamei:
– Diz pra mim por que é que eu vim para cá?
– Culpa? Amor? Tédio? – Eleanor disse, seguida por uma alta risada.
– Estupidez? – desejando algo substancial o suficiente para acalmar os barulhos irradiando de meu estômago, eu peguei um cookie de chips de chocolate de um saco no banco do passageiro. O mocha de caramelo salgado extragrande – grátis, cortesia de uma bonita barista de cabelos ruivos que havia descaradamente flertado comigo – não seria o suficiente. – Por favor, me salve dessa tortura.
– Isso não vai acontecer, Kellan. Você deveria ter ouvido a mamãe quando eu sugeri que podia ser que você não chegasse a tempo. “Ele sempre tem alguma desculpa para não vir para casa mais vezes. Essa família precisa dele aqui!” Mas não se preocupe, eu a acalmei. – Eleanor gritou por cima do som de vários pratos e copos tinindo no plano de fundo.
– Será que ela já se esqueceu de que estive aqui no Natal? – outro cookie encontrou seu caminho até minha boca. Eu preciso confessar, sou completamente indefeso contra doces, também conhecidos como minha criptonita, portanto, é por isso que eu sempre pensei que eles deviam fazer parte do maior grupo de alimentos. – Duas visitas dentro de seis semanas é uma a mais do que minhas contas permitem.
– Como foi que os nossos irmãos encontraram desculpas aceitáveis para pular o grande evento social da temporada? – Eleanor disse.
– Eu? Eu deixei de tentar competir com eles há anos. É mais fácil sair ileso das coisas quando eles não estão desapontando nossos pais como o resto de nós.
– Hey! Não me leve junto só porque você não pode escapar da estranha síndrome do filho do meio. – Eleanor colocou minha ligação na espera enquanto lidava com a reclamação de um cliente.
Minha irmã mais nova havia feito trinta anos no mês passado e estava infeliz sobre isso, já que ela ainda não havia encontrado o homem certo. Ela também insistia que não estava virando a nossa mãe, apesar de a cada hora, todos os dias, ficar constantemente colocando aqueles filamentos de imaginação no esquecimento. Verdade seja dita, Eleanor era a imagem cuspida de Violet Ayrwick, e daquela maneira onde todo mundo consegue perceber, menos as duas. Gêmeas, como Nana D sempre disse com aquela doce melodia de sua voz. Eleanor vai definitivamente estar na festa de aposentadoria do nosso pai, já que não havia a menor chance nesse mundo de eu ir sozinho nessa perda de tempo de festa. O convidado de honra havia sido o presidente da Faculdade Braxton nos últimos oito anos, mas ao fazer sessenta e cinco anos, Wesley Ayrwick se afastou do cobiçado cargo.
Eleanor voltou à linha:
– Emma ficou tranquila com você nos visitando sozinho dessa vez?
– Sim, ela está com os pais de Francesca. Eu não podia tirá-la da escola novamente, mas nós vamos usar o Facetime todos os dias enquanto eu estiver fora.
– Você é um pai maravilhoso. Eu não sei como você faz tudo isso sozinho. – Eleanor respondeu. – Então, quem é a mulher que você pretende encontrar enquanto nos agracia com sua presença neste final de semana?
– Abby Monroe. Ela completou várias pesquisas para meu chefe, Derek. – eu disse, xingando o grudento e festeiro produtor executivo de nosso programa de televisão premiado, Realidade Sombria. Quando informei ao Derek que precisava voltar para casa para uma obrigação familiar, ele generosamente sugeriu que eu pegasse alguns dias extras para relaxar, antes de tudo explodir na emissora, então designou que eu entrevistasse sua última fonte. – Já ouviu o nome?
– Soa familiar, mas eu não consigo saber exatamente de onde agora. – Eleanor disse entre os gritos de pedidos para o cozinheiro e falando pra ele se apressar. – Qual é a sua próxima história?
Realidade Sombria, um tipo de show no estilo de exposição, adicionando um drama aos crimes da vida real, ia ao ar semanalmente e tinha vários episódios com continuação, ao estilo de programas de reality show e novelas. A primeira temporada destacou serials killers, Jack o Estripador e O Vampiro Humano, fazendo com que o programa ficasse no topo no debut da série. – Eu tenho uma enorme bíblia de pesquisa da segunda temporada do show para ler esse final de semana… caça aos fantasmas e queima de bruxas no século XVII da cultura americana. Eu realmente preciso de um novo emprego. Ou matar meu chefe.
– Uniforme de listras não ia ficar bem em você. – Eleanor disse.
– Não se esqueça, eu sou muito bonito.
– Eu não vou cair nessa. Vamos deixar Nana D julgar isso antes de eu te bater por dizer algo tão patético. Talvez Abby seja normal?
– Com a minha sorte ela vai ser outra vítima amarga e desprezada, com razão, na busca por justiça por qualquer trauma colossal que Derek causou. – eu respondi com um suspiro. – Eu acho que ela é mais uma perda de tempo.
– Quando você vai entrevistar ela? – Eleanor perguntou.
Eu pretendia marcar um almoço para conhecer o básico de Abby, mas mal tinha conseguido pegar o voo naquela afobação de última hora.
– Com sorte amanhã, se ela não estiver longe demais. Tudo o que Derek me disse é que ela mora no centro da Pensilvânia. Ele não tem noção de espaço ou distância.
– Está ficando cheio por aqui, eu tenho que ir. Não vou conseguir te encontrar para jantar hoje, mas te vejo amanhã. Não cometa nenhum assassinato até que a gente converse novamente. Beijos e abraços.
– Só se você não envenenar nenhum cliente. – eu desliguei a ligação, implorando aos deuses para me transportarem de volta à Los Angeles. Não consegui mais aguentar o stress e devorei os dois últimos cookies. Devido à minha obsessão por sobremesas, a academia nunca tinha realmente sido uma opção pra mim. Eu fazia algum tipo de exercício diariamente, a não ser que eu estivesse doente ou de férias, o que essa semana certamente não seria. Não haveria nenhuma praia, cabana ou “mojitos”. Portanto, eu não iria aproveitar muito num futuro imediato.
Eu naveguei pela rodovia sinuosa com o aquecedor de assento no máximo e o limpador de para-brisa no modo maníaco passivo-agressivo para manter o para-brisa limpo de gelo e neve. Era o pior do inverno, e meu corpo inteiro tremia, o que não era uma coisa boa quando meus pés precisavam estar prontos para pisar no freio caso aparecesse um veado ou cervo. Sim, eles eram comuns nessas partes. Não, eu não tinha atropelado nenhum. Por enquanto.
Não havia hora melhor para ligar para Abby e sugerir um encontro. Quando ela atendeu, não fiquei surpreso com a inocência dela em relação à abordagem secreta de meu chefe.
– Derek nunca me disse nada sobre me encontrar com alguém mais. Você tem um sobrenome, Kellan? – Abby queixou-se depois que eu já tinha explicado quem eu era no primeiro minuto da ligação.
– Ayrwick. Eu sou Kellan Ayrwick, um diretor assistente da segunda temporada do Realidade Sombria. Eu pensei que nós pudessemos revisar a pesquisa que você preparou para Derek, e discutir sua experiência com o trabalho da indústria televisiva.
Houve alguns segundos de silêncio no telefone.
– Você disse Ayrwick? Como… bem… não tem alguns deles trabalhando em Braxton?
Eu fiquei momentaneamente surpreso sobre como uma garota groupie podia saber qualquer coisa sobre Braxton, mas então pensei que ela podia estar atualmente frequentando a faculdade, ou tendo frequentando a faculdade anteriormente com algum dos meus irmãos.
– Vamos almoçar juntos amanhã para discutir isso. O que você acha de marcamos para uma da tarde?
– Na verdade, não. Eu não estava preparada para conversar nesse final de semana. Pensei que iria pegar um voo nos próximos dias para me encontrar com Derek. Não é uma boa hora.
– Será que não podemos nos encontrar para uma breve introdução? – Derek com certeza sabia como pegar os mais dramáticos. Eu podia imaginá-la mexendo no cabelo e piscando os olhos, apesar de não saber como ela se parecia.
– Eu estou no meio de um furo de reportagem que vai expor sobre um crime acontecendo aqui no Condado de Wharton. Isso pode ser algo que vai servir para Derek… bem, ainda é cedo para dizer qualquer coisa. – a voz dela, de repente, ficou fria e hesitante. Ela provavelmente havia se esquecido de como usar o telefone ou acidentalmente me colocou no mudo.
– É isso que você mencionou para ele sobre tópicos para uma futura temporada do Realidade Sombria? Eu estou mais interessado em crimes reais e reportagem investigativa. Talvez eu pudesse te ajudar nesse campo. – assim que percebi que ela estava no mesmo condado que eu, tentei de todas as formas arranjar um encontro.
– Você é filho de Wesley Ayrwick. Eu ouvi dizer que ele tem um monte de filhos.
Meu queixo caiu uns dois centímetros. Nana D teria contado as moscas enquanto elas voavam para dentro e para fora da minha boca devido ao tempo que ela ficou aberta. Quem era essa garota que sabia algo sobre a minha família?
– Eu não vejo por que isso seja relevante, mas sim, ele é meu pai. Você frequenta Braxton, Abby?
– Frequentar Braxton? Não, você tem que aprender algumas coisas se nós vamos trabalhar juntos. – ela riu histericamente, chegando a gargalhar.
– Ótimo, então podemos nos encontrar amanhã? – o tom daquela mulher havia me incomodado, mas talvez eu a tenha julgado mal, baseado no gosto usual de Derek com mulheres. – Mesmo que seja apenas trinta minutos para que possamos estabelecer uma relação. Você conhece a Lanchonete Pick-Me-Up? – Eleanor cuidava do local, então eu teria uma desculpa para me afastar se Abby fosse difícil de lidar. Minha irmã poderia arranjar que um dos garçons derrubasse uma tigela de sopa em Abby, então trancá-la no banheiro enquanto eu escapava. Não havia nada que eu desprezasse mais do que pessoas tolas, sem noção ou insípidas. Eu já havia tido o suficiente de encontros com garotas de irmandades anos atrás. Se eu encontrasse mais alguma Garota de LA, consideraria deixar a família de Francesca, os Castiglianos, tomar o controle da situação. Apague isso, eu nunca disse essas palavras em voz alta.
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